Como é a travessia...

Diferentemente de outras provas, na travessia do Canal da Mancha cada nadador faz a sua prova sozinho, com um barco a seu lado, onde estão seu técnico e um árbitro. Para tal, no momento da reserva do barco, é escolhida uma semana onde o nadador pode realizar a prova em qualquer um destes dias. Com isso, é montada uma fila de nadadores por barco, onde um somente pode nadar quando o seu antecessor já o fez. Há também a possibilidade de se montar um revezamento, onde cada atleta nada 1 hora e na sequência é substituido por um de seus parceiros.

A primeira etapa é fazer a reserva do barco, pois como há poucos à disposição, a fila é grande... Para ser o primeiro da fila na semana, eu tive de fazer a reserva com 1,5 ano de antecedência.

Após a reserva do barco, o nadador deve fazer a inscrição junto à Associação, mediante o pagamento de uma taxa.

A escolha do dia e horário de largada é feita entre o nadador, o técnico e o barqueiro, em função das condições climáticas. São analisadas as condições de corrente, velocidade e direção do vento, além da temperatura. Devido à esta última, as travessias iniciam em junho e vão até o começo de setembro. Por isso, além do preparo físico e mental, o nadador deve ter também uma ajudinha da "mãe natureza".

Para a velocidade do vento, há também uma autorização dada pela Guarda Costeira. O máximo permitido para as travessias solo são 8 milhas/hora e para os revezamentos são 12 milhas/hora. Para se ter uma idéia, hoje está mais de 20 milhas/h...

A largada é dada da Sheakspeare Beach, praia entre as cidades de Folkestone e Dover, onde a distância entre a Inglaterra e a França é menor. A ida até lá é no barco e o nadador entra na água e nada até a praia. Ele deve sair completamente da água e, quando pronto, erguer o braço. Neste momento, o árbitro presente no barco toca uma sirene, dando início à prova. Como curiosidade, o tráfego no canal não é paralisado, e a todo momento passam as balsas (ferry-boats) que fazem o tráfego entre os dois países e um sem número de outros navios, tanto transversal como longitudinalmente.

Durante a prova, o nadador não pode ter nenhum tipo de auxílio externo, como roupa de neoprene. É permitido somente sunga (ou maiô), uma touca e óculos de natação. No percurso são feitas paradas para que seja feita a alimentação, com alimentos e bebidas ricos em carboidratos de rápida absorção e digestão. Nestas, não é permitido o toque do nadador no barco ou em qualquer objeto flutuante, o que caracterizaria auxílio externo. Ele deve ficar boiando e receber o alimento sem tocar no técnico. isto é feito com uma vara (cabo de vassoura ou vara de pesca) com um pote em sua ponta, onde é colocada sua alimentação.

Quando da chegada no lado francês, o nadador deve sair completamente da água e ficar em pé, momento em que o árbitro dá por encerrada a prova. Isto as vezes é um problema, pois há praias onde é necessário subir em pedras para sair da água... A volta para a Inglaterra é feita no mesmo barco.

O primeiro nadador a atravessar foi o capitão da Marinha Britânica Matthew Webb, em 1875, com o tempo de 21h45m, como uma aposta. O atual recorde da prova é de Chad Hundeby, dos Estados Unidos, com 7h17m, em 1994. O recorde feminino é da também americana Penny Lee Dean, em 1978, com 7h40m. Há pessoas que fazem mais de uma perna, ou seja, fazem ida e volta, ou casos em que foram feitas 3 pernas. O recorde da travessia dupla é de Philip Rush, da Nova Zelândia, com 16h10m, em 1987. No mesmo dia, ele fez mais uma perna e também bateu o recorde da travessia tripla, com incríveis 28h31m. Nesta prova ele bateu 3 recordes ao total e por apenas 15 minutos não bateu a da travessia única, em sua primeira perna, pois o seu tempo foi de 7h55m...

Há recordes para todas formas de travessia, como por exemplo o de borboleta em 14h18m, por Julie Bradshaw, feita em 2002. Há também o mais velho, o mais novo, entre outros...

Outra premiação bastante interessante é a de Rei e Rainha do Canal. O Rei é o inglês Michael Read, atual presidente da Associação, com 33 travessias em sua carreira. A Rainha é da também inglesa Alison Streeter, com 39 travessias.